
Consumo de notícias continua migrando da mídia tradicional para o digital
O Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo divulgou a edição 2025 do relatório Digital News Report 2025 que apresenta um extenso panorama sobre os hábitos de consumo de notícias em escala global. A pesquisa, uma das mais respeitadas do setor, foi realizada com mais de 95 mil pessoas em 47 países e fornece dados atualizados sobre como as audiências acessam, consomem e percebem o conteúdo jornalístico em um cenário digital em constante transformação.
O relatório deste ano reforça tendências já observadas em edições anteriores, como o declínio contínuo do consumo de mídias tradicionais (TV, rádio e jornais impressos) e o avanço das plataformas digitais, especialmente redes sociais e serviços de vídeo. Além disso, o estudo analisa como novos formatos e vozes – como influenciadores, podcasters e criadores de conteúdo – estão ganhando espaço no ecossistema informativo, ao lado dos impactos causados pela inteligência artificial e pela fragmentação das plataformas.
O comportamento das audiências
Entre os temas abordados, o estudo traz uma atenção especial ao papel das redes sociais como canais predominantes de acesso à informação. Plataformas como Facebook, YouTube, TikTok e WhatsApp seguem ampliando seu alcance como fontes de notícias, principalmente entre os mais jovens. O TikTok, em particular, é apontado como a rede que mais cresce para consumo de notícias, embora também concentre altos níveis de preocupação com desinformação.
A pesquisa destaca ainda a ascensão de personalidades e influenciadores digitais como fontes relevantes de conteúdo informativo em diversas regiões do mundo. Em países como Estados Unidos, França e Tailândia, essas figuras já rivalizam com veículos tradicionais no alcance das audiências, especialmente entre os jovens.
Outro ponto de atenção é o uso de podcasts e vídeos como formatos preferidos para o consumo de notícias. O crescimento do vídeo, impulsionado por plataformas como YouTube, Instagram e TikTok, reforça a mudança nos hábitos de consumo, com maior preferência por conteúdos audiovisuais em vez de textos. Esse cenário favorece também o surgimento de notícias personalizadas e de formatos híbridos que combinam jornalismo com entretenimento.
O estudo também se aprofunda nas percepções sobre a confiabilidade da informação. Apesar de a confiança geral nas notícias ter se mantido estável pelo terceiro ano consecutivo (40%), o grau de preocupação com a desinformação permanece alto – principalmente nos Estados Unidos e em países africanos. A desinformação atribuída a influenciadores digitais e políticos nacionais se destaca como um dos principais pontos de inquietação para o público global.
Por fim, a pesquisa examina o papel da inteligência artificial no ecossistema jornalístico. Embora o uso de IA ainda seja incipiente para a maioria dos consumidores, há um crescimento notável entre os mais jovens, que já recorrem a chatbots e assistentes para buscar informações. O público, no entanto, demonstra ceticismo em relação à transparência, precisão e confiabilidade das notícias geradas por IA, preferindo usos que mantenham o envolvimento humano.
As principais descobertas do estudo
O relatório da Reuters destaca as seguintes conclusões:
- O engajamento com fontes tradicionais de mídia como TV, impressos e sites de notícias continua em queda, enquanto cresce a dependência de redes sociais, plataformas de vídeo e agregadores online. Isso é particularmente evidente nos Estados Unidos, onde a coleta de dados coincidiu com as primeiras semanas do novo governo Trump. O momento político provocou um aumento no uso de redes sociais para notícias (+6 pontos percentuais), mas não causou o mesmo efeito nas fontes tradicionais.
- Personalidades e influenciadores estão, em alguns países, desempenhando um papel significativo na formação dos debates públicos. Um quinto (22%) da amostra dos Estados Unidos afirma ter visto notícias ou comentários do podcaster popular Joe Rogan na semana seguinte à posse, incluindo um número desproporcional de homens jovens. Na França, o jovem criador de notícias Hugo Travers (HugoDécrypte) alcança 22% dos menores de 35 anos com conteúdo distribuído principalmente pelo YouTube e TikTok. Jovens influenciadores também têm papel relevante em muitos países asiáticos, como a Tailândia.
- O consumo de notícias nas plataformas online continua a se fragmentar, com seis redes alcançando agora mais de 10% de uso semanal para conteúdo noticioso, em comparação com apenas duas há uma década. Cerca de um terço da amostra global usa o Facebook (36%) e o YouTube (30%) semanalmente para se informar. Instagram (19%) e WhatsApp (19%) são usados por cerca de um quinto, enquanto o TikTok (16%) segue à frente do X (12%).
- Os dados mostram que o uso do X para notícias está estável ou em crescimento em diversos mercados, com o maior aumento nos Estados Unidos (+8 pontos), Austrália (+6) e Polônia (+6). Desde que Elon Musk assumiu a rede em 2022, muitos usuários de perfil mais conservador, especialmente homens jovens, migraram para a plataforma, enquanto parte do público progressista abandonou ou a utiliza com menos frequência. Redes rivais como Threads, Bluesky e Mastodon ainda têm pouco impacto global, com alcance de 2% ou menos para notícias.
- Com as mudanças nas estratégias das plataformas, o vídeo continua a crescer em importância como fonte de notícias. Em todos os mercados, a proporção de consumo de notícias através de vídeos sociais cresceu de 52% em 2020 para 65% em 2025, e o consumo de qualquer tipo de vídeo passou de 67% para 75%. Nas Filipinas, Tailândia, Quênia e Índia, mais pessoas agora dizem preferir assistir às notícias do que lê-las, o que impulsiona ainda mais o crescimento de criadores de notícias baseados em personalidade.
- A pesquisa também mostra a importância dos podcasts jornalísticos para alcançar públicos mais jovens e com maior escolaridade. Os Estados Unidos estão entre os países com maior proporção (15%) de pessoas que acessaram um ou mais podcasts na última semana, muitos deles agora gravados em vídeo e distribuídos por plataformas como YouTube e TikTok. Em contraste, muitos mercados de podcast do norte da Europa continuam dominados por emissoras públicas ou grandes veículos tradicionais e têm adotado versões em vídeo de forma mais lenta.
- O TikTok é a rede social e de vídeo que mais cresce, com aumento de mais 4 pontos percentuais nos mercados em termos de uso para notícias, atingindo 49% da amostra online na Tailândia (+10 pontos) e 40% na Malásia (+9). Ao mesmo tempo, as pessoas nesses mercados veem a plataforma como uma das maiores ameaças em relação à disseminação de informações falsas ou enganosas, ao lado do Facebook, fonte de preocupação pública há muito tempo.
- No geral, mais da metade da nossa amostra (58%) afirma continuar preocupada com sua capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso nas notícias online, uma proporção semelhante à do ano passado. A preocupação é maior na África (73%) e nos Estados Unidos (73%), com os níveis mais baixos na Europa Ocidental (46%).
- Quando se trata das fontes subjacentes de desinformação, influenciadores e personalidades online são vistos globalmente como a maior ameaça (47%), junto com políticos nacionais (47%). A preocupação com influenciadores é mais alta em países africanos como Nigéria (58%) e Quênia (59%), enquanto os políticos são considerados a maior ameaça nos Estados Unidos (57%), Espanha (57%) e grande parte da Europa Oriental, incluindo Sérvia (59%), Eslováquia (56%) e Hungria (54%).
- Apesar disso, o público está dividido quanto a se as empresas de redes sociais devem remover mais ou menos conteúdo que pode ser falso ou prejudicial, mas não ilegal. Os entrevistados no Reino Unido e na Alemanha são os mais propensos a dizer que está sendo removido conteúdo de menos, enquanto os dos Estados Unidos estão divididos: os de direita acreditam que já se remove demais, enquanto os de esquerda pensam o oposto.
- A pesquisa identificou que chatbots e interfaces baseadas em inteligência artificial estão surgindo como fonte de notícias, à medida que integram buscas e informações em tempo real. Os números ainda são relativamente pequenos no geral (7% usam para notícias semanalmente), mas bem mais altos entre os menores de 25 anos (15%).
- Com muitos veículos buscando usar IA para personalizar melhor o conteúdo jornalístico, há opiniões divergentes do público. Enquanto alguns temem deixar de receber notícias importantes, outros estão entusiasmados com o potencial de tornar as notícias mais acessíveis ou relevantes, como resumos (27%), tradução de matérias para outros idiomas (24%), melhores recomendações de matérias (21%) e o uso de chatbots para tirar dúvidas sobre as notícias (18%).
- De forma mais geral, no entanto, os públicos na maioria dos países continuam céticos quanto ao uso de IA nas notícias e se sentem mais confortáveis com aplicações em que humanos permanecem envolvidos. Em nível global, espera-se que a IA torne as notícias mais baratas de produzir e mais atualizadas, mas menos transparentes, menos precisas e menos confiáveis.
- Esses dados podem servir de alívio para organizações jornalísticas que esperam que a IA aumente o valor das notícias produzidas por humanos. Nesse sentido, verificamos que marcas de notícias confiáveis, incluindo serviços públicos de muitos países, ainda são os lugares mais frequentemente citados como fontes para verificar se algo é verdadeiro ou falso online, ao lado de fontes oficiais (governo). Isso se aplica a todas as faixas etárias, embora os mais jovens sejam proporcionalmente mais propensos do que os mais velhos a usar redes sociais e chatbots de IA para checar informações.
- Um sinal relativamente positivo é que a confiança geral nas notícias (40%) se manteve estável pelo terceiro ano consecutivo, mesmo que ainda esteja quatro pontos abaixo do pico observado durante a pandemia da Covid-19.
- À medida que os veículos buscam diversificar suas fontes de receita, continuam enfrentando dificuldades para expandir os negócios de assinaturas digitais. A proporção de pessoas que pagam por notícias online permanece estável em 18% entre um grupo de 20 países mais ricos – com a maioria ainda satisfeita com conteúdos gratuitos. A Noruega (42%) e a Suécia (31%) apresentam as maiores taxas de pagamento, enquanto um quinto (20%) paga nos Estados Unidos. Em contraste, apenas 7% pagam por notícias online na Grécia e na Sérvia, e apenas 6% na Croácia.
O cenário brasileiro
No Brasil, o consumo de notícias reflete uma transição relevante: embora a televisão aberta ainda seja forte, as plataformas digitais ganham terreno expressivo.

As redes sociais desempenham um papel central nesse cenário, com aplicativos como WhatsApp, YouTube, Instagram e TikTok sendo amplamente utilizados como fontes de informação, especialmente entre os mais jovens. Esse uso intensivo levanta preocupações sobre a qualidade da informação consumida, uma vez que conteúdos compartilhados nesses ambientes muitas vezes circulam sem verificação.
O relatório também destaca o uso crescente de inteligência artificial nas redações brasileiras. A adoção inclui desde a tradução de textos de agências até a produção de vídeos curtos e análise automatizada de grandes volumes de dados. Um exemplo é o jornal O Globo, que gerou conteúdos a partir da análise de cerca de 600 000 discursos legislativos entre 2001 e 2024.
Este movimento ilustra a adaptação das redações brasileiras às tecnologias digitais e à produção de conteúdo multimídia, alinhando-se às tendências globais presentes no consumo de notícias.
Um resumo executivo completo do relatório do Reuters Institute pode ser visto aqui. Uma análise completa do caso brasileiro pode ser vista aqui.
Fonte: Reuters Institute
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